Por Melania Amorim
"Ontem tive o dissabor de receber mensagem do
Facebook me avisando ter removido o meu post em que comemorava um fato para mim
muito marcante, DOZE ANOS sem realizar episiotomias, e a foto com que ilustrava
a campanha "TIRE A MÃO DAÍ", aliás uma foto já bastante divulgada
nesta e em outras redes sociais, inclusive no meu blog. Mais ainda, o Facebook,
atendendo decerto à denúncia de algum puritano hipócrita e/ou episiotomista
confesso e/ou inimigo da causa da Humanização do Parto, bloqueou o meu acesso
por 24 horas.
Que a foto é forte e chocante, CLARO! Assim também o é a
episiotomia e mais chocante que a foto é saber que diariamente milhares de
mulheres em nosso País estão sendo submetidas rotineiramente a um procedimento
cuja falta de efetividade para facilitar o parto e proteger o assoalho pélvico
já foi demonstrada e cujos efeitos deletérios já foram bastas vezes
demonstrados. EPISIOTOMIA DE ROTINA É VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA! E mais ainda, eu
defendo que o corte mutilador, a incisão cruenta e ampla do períneo, NÃO SEJA
REALIZADA NUNCA! Não entendo por que um procedimento é introduzido sem a menor
evidência na prática médica e agora nós, mulheres, é que temos que apresentar
evidências de que essa prática é desnecessária e prejudicial. Mas enfim, as
evidências estão aí se somando, em breve teremos ainda mais argumentos, mas é
importante salientar: já SOBRAM EVIDÊNCIAS de que não se deve realizar
episiotomia de rotina e infelizmente nós continuamos sendo cortadas, sem que
sequer nos comuniquem ou consultem.
Posto novamente, agora como nota, o meu texto do dia 8 de
março de 2014 e, para evitar que novamente me censurem, em vez da foto
censurada indico links para o meu blog, onde além de fotos apresento a história
da episiotomia, a voz das mulheres e as evidências científicas disponíveis
sobre o procedimento. Boa leitura!
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Em 8 de março de 2014 Melania Amorim escreveu:
Quase meia-noite, em breve estarei completando este marco
que representa para mim uma grande conquista e superação: 12 anos SEM
episiotomias! Em uma sexta-feira, dia 8 de março de 2002, eu realizei a minha
última episiotomia, em uma época em que minha taxa pessoal de episiotomias já
era de 5%... Essa última, eu a acreditei necessária, certamente não a faria
hoje em dia.
Para quem teve uma educação médica dentro de outro
paradigma e passou anos acreditando que era necessário cortar períneos para
facilitar o parto e (paradoxalmente) preservar o assoalho pélvico feminino,
para quem efetuou milhares de vezes esse procedimento, foi uma transformação e
tanto...
... mas ainda estou em dívida com as mulheres. Somente
pedir desculpas não adianta, portanto transformo esse débito em compromisso, na
luta para evitar o corte mutilador, no protesto contra as episiotomias de
rotina, uma das formas de violência obstétrica infelizmente ainda muito comum
em nosso País, não apenas pelo ato em si, mas pelo que ele significa, a crença
de que o corpo feminino é essencialmente defectivo e depende da intervenção médica
para parir.
Neste 8 de março eu prossigo em campanha PELA ABOLIÇÃO
DAS EPISIOTOMIAS DA PRÁTICA OBSTÉTRICA!
TIRE A MÃO DAÍ!