Por: Kalu Brum, em Olhar Mamífero.
Não há maneira mais eficiente de manter uma sociedade
alienada do que fazer as mulheres ficarem distraídas com seus próprios corpos.
Ou diria, vaginas?
Recentemente vi uma matéria que dizia que as cirurgias
plásticas agora entraram no mundo das vaginas.
Se existe um lugar que eu acho que não cabe tesouras e
agulhas desnecessárias é a vagina!
Segundo o relatório da Sociedade Internacional de
Cirurgia Plástica, o Brasil lidera o ranking das labioplastias.
Acredite ou não mas 9.043 brasileiras se submeteram a
cirurgia para corrigir o que consideravam imperfeições nos lábios vaginais. O
número corresponde a mais de 16% do total de labioplastias no mundo.
Desses procedimentos a grande maioria é por razões meramente
estéticas.
Nossas vaginas, há tempos, tem sido infantilizadas. Eu
penso que parte dessa infantilização se deu por causa do parto.
Enquanto as partes eram olhadas por mulheres, amparadas
por mulheres, os pêlos, estavam lá, para mostrar nossa parte selvagem. Depois
se foram os pêlos para que os médicos pudessem fazer uma entrada limpa,
infantilizando até no chamado (mãezinha) as partes íntimas. Uma vagina infantil
para ser cortada.
Foi nesta época em que a episiotomia ganhou espaço
deixando marcas no períneo (na alma, na moral) como castigo por ser mulher e
querer parir.
A tricotomia (raspagem dos pêlos vaginais) e a
episiotomia (corte do períneo) são práticas corriqueiras em quase 90% dos
míseros partos normais que temos no Brasil (48%). Práticas consideradas hoje
como parte da gama de violência obstétrica em que 1 a cada 4 mulheres, segundo
a Fundação Clóvis Salgado sofrem para terem seus filhos.
Décadas mais tarde a vagina foi então aposentada do
divino ato de dar a luz para que as cirurgias, que as brasileiras tanto amam,
entrassem em cena.
As cesáreas passaram a ser feitas muitas vezes com a
lipoaspiração e plástica abdominal. Fortalecendo o culto alienação através da
distração com o próprio umbigo (ou vagina e peitos).
Um estudo publicado na revista Annals of Plastic Surgery
sugeriu que entre as mulheres que receberam implantes cosméticos de seio, o
índice de suicídio era três vezes maior do que a média. O estudo examina as
causas de morte entre 3.257 mulheres suecas que realizaram implantes de seios
entre 1965 e 1993.
O estudo tenta provar que as não é o implante nos seios
que faz as mulheres se suicidarem. Mas sim as mulheres que fazem a cirurgia
possuem transtornos.
A não aceitação de si mesma é, talvez a grande lacuna que
o mercado procura usar para manter as mulheres alheias de si mesmas e de seus
processos.
Apesar de não ter achado nenhum artigo que diga que os
implantes de silicone não atrapalhem a amamentação, minha experiência empírica
é outra: conheço muitas mulheres que tiveram muito problema com amamentação
devido ao silicone.
Se os seios servem apenas para adoração masculina, agora
as mulheres estão querendo padronizar suas vaginas para que fiquem
esteticamente perfeitas.
Uma justificativa comum para opção da cesárea é o tal
medo da Perereca Frouxa.
Mas quando o bebê nasce ele rasga tudo?
Podem acontecer laceração em caso de saída muito rápida
do bebê (meu caso), cicatrizes de episiotomias anteriores, já que é uma região
de fibrose e fragilidade dos tecidos, com potencial maior para rupturas.
Aí você pode se perguntar: não seria melhor fazer uma
episiotomia para evitar laceração? Você tem 60% de chance de não ter laceração
nenhuma e que seu períneo fique íntegro. Ou, se houver lacerações, elas podem
cicatrizar melhor do que uma episio.
Quando não há episiotomia no Parto Normal existe a possibilidade
de acontecer as lacerações espontâneas de primeiro grau (lesão de pele e
mucosa) e mais dificilmente as de segundo grau, (lesão de músculos). As
estatística apontam que as lacerações de segundo grau ( semelhantes as episios)
tem uma melhor cicatrização e menos dor do que as episios.
E a tal perereca frouxa?
A pereca frouxa tem pouca ligação com o parto e muito
mais com a gestação. O peso que o neném exerce no assoalho pélvico, de
constituição física e de hábitos que a mulher tenha podem levar a uma perda da
musculatura.
Ao invés de mutilarmos nossas vaginas para que fiquem
esteticamente bonitas, porque não exercitá-las, usá-las para que tenhamos muito
prazer, para que possa exercer sua deliciosa função de se abrir para a chegada
de uma criança.
Por que não depilá-la (ou não), permitir que seja
lambida, livre. Sem cicatrizes de partos violentos ou ausentes de uso pelo não
parto.
Que possamos olhar além de nossas vaginas e lutar pelo que
realmente faz sentido: o direito de parir e usar a vagina como a gente bem
entender, sem tabus ou mutilações.
Um salve para as vaginas reais e seus lábios de todas as
formas. Pelo fim da necessidade de atender esteticamente aos desejos
masculinos. Porque a beleza de ser mulher é SER.
FONTE: http://vilamamifera.com/olharmamifero/ate-quando-nossas-vaginas-serao-cortadas/
FONTE: http://vilamamifera.com/olharmamifero/ate-quando-nossas-vaginas-serao-cortadas/
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